Um cavalo, que tinha o rei no bojo,
Disse a um magro jumento dum moleiro:
- "Da minha raça, tu? Causas-me nojo;
Tu fazes-me rir: és menos que um sendeiro".
"A mim me adornam selas e xairéis,
Magníficos arreios e gualdrapas;
Em mim cavalgam Príncipes e Reis,
Homens de guerra, belas damas guapas".
"E tu, que sobressais pelas orelhas,
Por sobre a albarda, que te adorna a espinha,
Que levas, asno? Diz! Canastras velhas,
Teu dono, um odre, ou sacos de farinha!"
- É verdade o que dizes, disse o burro;
Sou humilde, nem pompas alardeio,
Mas trago a boca livre, e livre zurro,
E tu, pedaço de asno, andas de freio!...
João Penha - Écos do passado
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