quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Sonhos quebrados, esperanças perdidas...

Sinto-me cada vez mais revoltado. Sinto a raiva a crescer dentro de mim.

Sei que num cargo de chefias e administração é sempre necessário tomar decisões de coragem que vão gerar ondas de insatisfação e contestação em minorias, e neste caso, numa maioria.

Também compreendo que o problema não é apenas do presente, mas sim de um passado que remonta até ao restauro da democracia a 25 de Abril de 1974, mas que, tenhamos consciência, se agravou num presente bastante recente.

Na actualidade, paga-se uma factura de anos de má gestão das finanças públicas, de uma política de importação e de pedido de ajudas a uma União Europeia que adora impor directrizes no nosso país, como se nele governasse.

Não estou a dizer que não seja necessário fazer alguns sacrifícios, mas se é obrigatório fazê-los, há que haver uma maior igualdade na distribuição dos mesmos. Não pode haver repetição de pedidos de sacrifícios aos mesmos contribuintes. Esta factura tem que ser paga por todos, mas quem tinha a responsabilidade de a pagar era os que mais contribuíram para ela.

A parcela que menos tem capacidade para suportar esta despesa foi a que foi incutida a ir nos enganos e nos incentivos ao endividamento que a banca quase impôs ao Povo Português. E o Povo Português foi no engodo procurando ter sempre uma vida acima das suas capacidades. Agora digam-me quem é mais culpado? E digam-me, a mim, que culpa tenho eu desta tão dura factura, uma vez que, nunca contribui um empréstimo. No entanto, vejo-me obrigado a ser solidário com todos os meus compatriotas que tiveram pouca visão e que não têm a mesma noção de gestão do seu capital, resultando no governo cortar-me 4 ordenados e meio nos próximos 2 anos e 3 meses.

Revolto-me e tenho receio, também, pelas medidas que estão a ser tomadas para o futuro de Portugal. Receio que não sejam as correctas.

Não sou nenhum economista, e também não sou nenhum engenheiro de finanças. A única gestão que faço é a do meu ordenado, que tenho que esticar durante o mês inteiro e até que tenho conseguido alimentar-me e ainda consigo chegar com algum no final do mês, por isso, até que não devo ser assim tão mau, mesmo sem experiência nenhuma.

Confesso que me sinto preocupado com estas medidas implementadas, porque na minha opinião, se o intuito é estimular a economia do nosso país, estas mesmas decisões não vão de encontro às expectativas esperadas. Senão vejamos, com tanto corte realizado, escalada no aumento dos preços, inclusive, de bens necessários, com o aumento dos impostos, cortes nas pensões, qual é o estímulo ao consumo?

O efeito irá ser o contrário, as pessoas irão retrair-se cada vez mais, vão poupar as suas economias o mais possível, cortar no supérfluo e tentar consumir apenas o indispensável.

Com estas medidas vão também aparecer novos problemas sociais. O desemprego já é um problema actual com números astronómicos, o aumento da criminalidade disparará, a emigração, uma vez que, as pessoas irão procurar melhores condições de vida para o estrangeiro, o que vai levar a mais desertificação do interior do país.

Caros governantes do meu Portugal, Roma e Pavia não se fizeram num dia (como diz o Povo) … Em Portugal existe o “culto do desenrasca”, o que é um erro comum e crasso. Este culto de se tomarem decisões com receitas a muito curto prazo nunca é o melhor para os interesses do nosso país, e as grandes empresas é que ficam com os “bolsos cheios” e um enorme poder sobre os bolsos dos Portugueses.

Sou jovem, e quero ser estimulado, quero que apostem em mim. Quero poder ter a oportunidade de ter a capacidade financeira para suportar a renda de uma casa. Quero deixar os meus pais gozar a sua reforma merecida, depois de anos de descontos para a caixa de aposentações. Quero deixa-los gozar a sua “velhice” sem terem que se preocupar com as minhas capacidades financeiras. Quero ser autónomo. Quero ter a oportunidade de constituir família, contribuir para a evolução do nosso país, mas receio que assim me estão a “cortar a pernas” e que nunca vou sair da minha zona de conforto e vou-me deixando estar, esperando que as coisas melhorem, deixando-me morrer e entediando a “velhice” e a paciência dos meu pais.

“É preciso sair à rua, é preciso esta insubordinação, esta revolta.” – Mia Couto in Jornal de Notícias, 16-10-2011.